Um encontro na Croisette

Todo mundo tem seus ídolos, e no Festival de Cinema de Cannes às vezes é possível chegar bem perto deles. Há dois anos, estive numa sessão especial no Palais des Festivals em que estavam presentes Sean Penn, Bono Vox, Natalie Portman, Michel Moore e Morgan Spurlock (diretor de “Super Size Me”).
 
No último sábado, estava na fila para ver “Another day”, de Mike Leight (aliás, ótimo), quando Woody Allen desceu a famosa escada do tapete vermelho, a menos de vinte metros de onde eu estava, Baixinho, simpático, sorridente, Woody arrancou aquele “Ohhhh” de todos que estavam à minha volta. Alguém gritou “Merci, Woody”, e acho que ele sintetizou o que todos ali gostariam de dizer naquele instante: obrigado por trabalhar tanto e criar uma obra digna, divertida e coerente.
 
Mas o meu grande encontro em Cannes neste ano não foi com Woody Allen. Foi muito mais concreto e muito mais emocionante. Estávamos, eu e a Luli, caminhando pela avenida Croisette (a principal da cidade, onde ficam quase todas as instalações do Festival), quando cruzamos com um sujeito magro, de cabelos grisalhos, com uma câmera fotográfica profissional pendurada no ombro. Eu teria passado direto por ele (meu senso de observação é lamentável), mas a Luciana me apertou o braço e disse: “Olha!”. Olhei. E ali, à minha frente, estava James Nachtwey. Não vou apresentá-lo. Quem não o conhece pode ir no Google e dar uma olhada nas suas fotos. Ele é, para resumir ao máximo, um dos maiores fotógrafos de guerra de todos os tempos. Talvez o maior, ao lado de Robert Capa.
 
Ao contrário de Woody Allen, ele não estava no tapete vermelho, nem havia centenas de pessoas olhando para ele. Ele era um anônimo trabalhador, num intervalo de suas atividades cotidianas, conversando com um amigo em meio ao torvelinho de turistas e participantes do festival. Nos apresentamos e falamos um pouco com ele. Eu disse que há anos uso o filme “War Photographer” (documentário do suíço Christian Frey sobre Nachtwey) nas minhas aulas na universidade. Perguntei se ele estava em Cannes para fotografar as estrelas ou as pessoas comuns, já que, aparentemente, não havia guerra nenhuma acontecendo na cidade. Ele riu e disse que estava fotografando de tudo um pouco.
 
Foi estranho ver um monstro sagrado do fotojornalismo, que se meteu nos conflitos mais dramáticos e perigosos das últimas três décadas, às voltas com os temas tranqüilos e mundanos da Croisette. Trocamos nossos cartões de visita, pedimos pra tirar uma foto com ele (essa aí em baixo)  e seguimos adiante, nós rumo a mais uma sessão de cinema, enquanto ele retomava sua rotina. É bom ver um ídolo de perto, mas é melhor ainda saber que ele é tão concreto e humano quanto a sua obra. Thank you, James.

Compartilhar

Mais Notícias

ENTREVISTA DE BRUNO POLIDORO SOBRE A NUVEM ROSA

https://abcine.org.br/entrevistas/bruno-polidoro-a-nuvem-rosa/?fbclid=PAZXh0bgNhZW0BMQABpuFMXdQNj-Kvc57GlMFVOEeIeWZXazTO2_4MOmkrNBkzTsp-wHuluA0TYA_aem_AWUC4phL_Jk7w1pHs37ZGlq4lsWB9fGKABbl4liOeMHEaVaf6qjz7vhikjprF7ZxD1g

23 de abril de 2024

COMEÇAM AS FILMAGENS DE “A HISTÓRIA MAIS TRISTE DO MUNDO”

Nesta segunda-feira, a câmera e os microfones foram acionados pela primeira vez para a realização do longa-metragem “A história mais triste do mundo”, do diretor Hique Montanari, uma co-produção da Container Filmes com a Prana Filmes. Baseado do livro homônimo de Mário Corso, a produção deve ser concluída em sete semanas, com locações em Porto […]

25 de março de 2024

ESTÁ COMEÇANDO “A HISTÓRIA MAIS TRISTE DO MUNDO”

GZH – Ticiano Osório – 27/11/23 Livro de Mário Corso vai virar filme de Hique Montanari Adaptação de “A História Mais Triste do Mundo” começará a ser produzida em 2024 O livro vencedor do Prêmio Açorianos de 2015 de Literatura Infantil, A História Mais Triste do Mundo, de Mário Corso, vai virar um longa-metragem com […]

6 de fevereiro de 2024

“Sioma Breitman, o Retratista de Porto Alegre” indicada ao XVI Prêmio Açorianos de Artes Plásticas

“Sioma Breitman, o Retratista de Porto Alegre” é finalista do XVI Prêmio Açorianos de Artes Plásticas em duas categorias distintas: Destaque Exposição Individual e Destaque Curadoria / Institucional! Esta exposição, que inaugurou o calendário de mostras do Farol Santander POA em 2022, tem uma conexão direta com as celebrações dos 250 anos da nossa cidade. […]

31 de outubro de 2023
Voltar