Sobre mortes no futebol

Às vezes é muito triste estar certo. Escrevi neste blog, no dia 11 de dezembro, pouco mais de dois meses atrás:

 

"O foguete atirado para dentro do campo durante o Grenal partiu das sociais do Olímpico. Por causa disso, o Grêmio perdeu o mando de campo em um jogo. Um jogo! É muito pouco! O meu Grêmio, a quem apoio de corpo presente há mais de 40 anos, deveria levar um gancho de dez, trinta, quarenta jogos. A temporada inteira do ano que vem sem jogar na Arena! Aí, quem sabe, esses torcedores piromaníacos aprenderiam alguma coisa. Do jeito que a coisa vai, vamos em breve lamentar um olho, uma mão ou uma vida perdida da maneira mais estúpida possível."

 

A vida foi perdida na quarta-feira passada, na cidade do Oruro, na Bolívia. Ao que tudo indica, o piromaníaco assassino que lançou o sinalizador estava na torcida do Corinthians. Há doze corintianos presos na Bolívia. Eles alegam inocência. Talvez sejam mesmo inocentes. Talvez nenhum deles tenha lançado o sinalizador, e seu crime seja "apenas" de portar armas semelhantes à que foi utilizada no homicídio. O que seria muito assustador. O criminoso pode ter fugido, pode já estar de volta ao Brasil, e estará no próximo jogo do seu time no campeonato estadual, com uma arma mortífera na mão.

 

Mas uma coisa é certa: esse futebol de sinalizadores que se transformam em armas, de torcidas que se transformam em gangues, de criminosos que se escondem no anonimato da massa, esse futebol é culpado.  E os clubes – e as federações! – que o sustentam também devem ser réus. Propus, para o "meu" Grêmio, uma pena de um ano sem jogar em seu estádio depois que um rojão foi atirado contra o banco de reservas do adversário, não causando qualquer dano físico (o que significa "apenas" tentativa de homicídio). O que propor agora como pena para um sinalizador que, jogado contra a torcida adversária, causa a morte de um adolescente de 14 anos?

 

Sinceramente, não sei. Sei apenas que a pena anunciada tem uma lógica tacanha e claramente econômica: o Corinthians jogará o resto da Libertadores sem torcida, o que preserva, antes de tudo, os contratos das transmissões dos jogos,  o dinheiro grosso que vai para os clubes e para as federações. E a torcida, que não pode ir ao estádio, poderá ver pela TV. É muito pouco. Outras mortes virão. E a estupidez continuará em campo – soberana, imbatível, imortal. 
 

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