POA-RIO: pequenas comparações

Quando me perguntam em outros estados por que sigo trabalhando e produzindo filmes em Porto Alegre, respondo que, apesar de seu astral carroça, a cidade tem algumas importantes vantagens em cima de outras capitais brasileiras com relação à qualidade de vida. Apesar do úmido inverno e do escaldante verão serem insuportáveis, de não existirem bons restaurantes em número suficiente e de não ser bairrista, em Porto Alegre existe mais respeito na qualidade dos serviços oferecidos à população. Por exemplo: Saio do meu confortável escritório em direção ao Rio de Janeiro, a convite de uma importante revista popular, pois marketing gratuito para empresa sempre é bom. Já no embarque, a cia áerea resolveu cumprir suas determinações com relação às malas de cabine que só podem ter 5 quilos. Como minha mala de rodinhas onde tem meu computador e todo meu trabalho, que sempre carrego junto para onde quer que eu vá, pesou 7 kilos, teve que ser desmembrada e despachada. O meu computador foi para dentro de uma sacola de papel da cia, que ficaria comigo. Virei mulher-propaganda no aeroporto, com um sacolão grande colorido, onde se lia o nome da empresa, com meu laptop dançando dentro. Tivemos uma hora de atraso devido às condições meteorológicas. Normal. A atendente disse que minha  malinha chegaria inteira e que teria uma etiqueta de prioridade no Galeão, descendo antes das outras, para eu não ter que esperar muito. Isto tudo para tentar compensar meu desagrado com aquela situação ridícula de ter que despachar algumas folhas de papel, uma calculadora e uma calcinha. Dormi todo o  vôo. Quando chego no Galeão, minha mala foi exatamente a última  a vir na esteira. Uma menina urrava com o atendente de bagagem extraviada, pois a dela não tinha chegado. Em suma: eu deveria estar satisfeita que a minha havia chegado por último. No desembarque, ninguém me esperando. Nenhuma plaquinha com o meu nome. Mau sinal. Resolvo telefonar para Porto Alegre para esclarecer. Tento ligar para meu escritório e entra uma gravação de um gay, com sotaque carioca: "Se você quiser experimentar todos os prazeres do sexo com homens, tenho maravilhas para lhe oferecer." Não acreditei. Eu fiz a ligação sem colocar o código do estado e caiu num tele-sexo do Rio. Que recepção na cidade maravilhosa. Consegui finalmente o número do chefe das vans que insistia que o número do celular do motorista estava correto, apesar de eu já ter ligado errado três vezes para a casa de uma senhora que já estava perdendo a paciência comigo. Ele pediu um tempo para ver o que estava ocorrendo. Eu já estava há 40 minutos esperando no desembarque. Resolvi fazer um pequeno lanche pois estava com fome. Tinha uma lanchonete de aeroporto, da mesma rede que estou acostumada a usar em Porto Alegre e que costuma ser direitinha. Peço um ciabata vegetariano. Está em falta. Peço um sanduiche natural. Ok. Chega um pão frio com linguiça calabresa dentro. Não aceito. – Você não queria calabresa? – Não, eu pedi vegetariano. – Então você não quer a calabresa. – Nâo, eu não como calabresa. – Então vou ter que fazer outro e lhe devolver dinheiro. – Faça isso, por favor. O sanduiche estava horrível. Para compensar minha irritação, acabei pedindo um milk-shake de chocolate que estava bom e devia ter 2000 calorias. Quando liguei a segunda vez para o escritório da van, para ver se o translado tinha evoluído de alguma forma e conferi novamente o numero errado com o insistente gerente, descobri que o motorista estava sentado ao meu lado. Quando lhe perguntei qual seu número de celular, percebi  que não tinha nada a ver com o número que seu gerente me dera. O motorista  disse: o começo do número está correto mas eles juntaram com o número da minha placa do carro. Nunca iria funcionar. – Então por favor vamos para o hotel que já está quase na hora do evento e eu ainda tenho que tomar banho. – Agora temos que esperar um cineasta mineiro que está quase chegando. O avião dele já aterrisou. No caminho, respiramos o cheiro pútrido do mangue, que empestou o sistema de ar-condicionado do carro. Acabei ficando num hotel simples mas limpinho, sem secador de cabelo no banheiro, com meu cabelo pingando para o evento. Depois de muita insistência, o camareiro trouxe um secador pré-histórico. Isto tudo acontecendo numa praia que já foi famosa, mas que agora fede a maresia e esgoto, com calçadas com cheiro de urina. Eu que já fui muito fã do Rio de Janeiro, hoje sempre fico em dúvida ao receber um convite. Pelo menos não fui assaltada.

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