POA-B.Aires: pequenas comparações

Eu sei que Porto Alegre tem muitos defeitos, assim como qualquer cidade do mundo, mas um olhar comparativo sempre é bom se houver uma visão jornalística e desapaixonada. Quem reclama do Rio é porque não viaja com freqüência a Buenos Aires. Nova confusão no embarque porque a cia aérea me mandou comprar um saquinho plástico de 1,50 reais onde  tinha uma fila enorme para ensacar a bagagem. No exterior, tu ganha este saquinho, por medo que tu exploda o avião com teu xampu, condicionador e hidratante. Tudo bem. Vivemos em tempos de terror. Depois de ensacar os 3 frascos, o atendente do raio-x, estilo baixinho invocado, me pergunta: – Está  levando líquidos? – Sim, ensacados. – Quantos emieles? – Poucos. – A senhora abra, por favor. Começava a aumentar a fila atrás de mim. – Não vai dar. Passou dos  100 emieles.  Ou deixa aqui ou despacha de volta na cia aérea. A senhora não viu o cartaz? – A cia me mandou comprar o saquinho. Não dá tempo de voltar no balcão. Eu estou indo pra Argentina trabalhar. O meu trabalho está todo dentro desta mala. Eu preciso dela. – Nada feito. – Chama o supervisor. Passei por 3 pessoas irritadas. Não teve jogo e eu de novo tive que voltar no balcão e despachar a malinha. Lacraram com tiras verdes. Os viajantes estão sendo muito penalizados. Há não muito tempo, eu embarcava na Varig, quando era chic pegar o vôo 100 para o Rio e  ganhar garrafinhas de vinho de brinde. Agora, quando eu olho aquele nutri, mesmo estando com fome, eu fico enjoada. Carregando o lap-top na mão, junto com o caderno cheio de folhas, acabei derrubando o casaco no free-shop, que foi parar na polícia federal. Cheguei esbaforida achando que o vôo já tinha embarcado, quando caio em um esperado atraso de quarenta minutos  para o embarque. Ao chegar no Ezeiza, minha mala demora mais que o normal. Na hora de comprar a corrida de táxi, olho mais atentamente para a mala e vejo que os lacres estão todos cortados. Alguém havia remexido em todo o conteúdo da mala, aberto a nécessaire e  soltado todos os produtos dentro da mala, inclusive os frascos problemáticos. Por sorte não tinha nada de valor. O aipódi estava na bolsa de mão. Ainda assim, a sensação de arrombamento é péssima. Eu já sabia que o sistema de malas neste aeroporto é horrível. Uma reportagem mostrou uma caneta que abre e fecha o zíper das malas sem deixar vestígio. Não tive saco de ir reclamar ao vivo, deixando para dar queixa pela internet. Uma passageira da fila do táxi , me disse: – E o pior é que tem que pegar estes táxis especiais. Têm alguns comuns, que quando tu vai descer para pegar a bagagem, eles fogem com ela. – Obrigada pela informação. Chegando ao hotel do evento, um quatro estrelas argentino que tem o serviço igual a um duas estrelas brasileiro, vi que o quarto e o banheiro eram velhos mas limpos. O desagradável é que uma saída de ar ao lado da cama tinha um barulho constante de um bicho arranhando as grades que poderia ser um rato ou uma barata gigante. O wireless anunciado na internet estava com defeito e havia apenas um computador na entrada para os cem quartos.  O hotel não trocava peso por reais, só por dólar. – Já ouviram falar no Mercosul? – Desculpa, senhora. Saí para a rua pois precisava de dinheiro em papel e para achar um acesso à internet. É a cidade que mais tem internet por metro quadrado do mundo. Entrei na mais próxima, principalmente para fugir de uma passeata numa das ruas principais, dos ex-combatentes das Malvinas, que tinham aparência de estar voltando do front naquele exato momento, o que trancou completamente o trânsito. Para completar, soltavam rojões potentes no meio da rua, sob os olhares impassíveis dos militares, provocando o choro das crianças que passavam. A internet custou 50 centavos a meia hora. Muito barata. Dei 100 pesos e obviamente a atendente, muito antipática, disse que não tinha troco e que eu deveria tentar  trocar na rua, ficando com minha identidade. Disse que o troco era responsabilidade dela. Ela não largava meus cem pesos, parecendo hipnotizada. Nisto, intervém um negro argentino, alto e forte, espécie rara no país, se oferecendo para pagar os 50 centavos. Agradeci prontamente e sai correndo da loja. Mas moedas têm seu preço.  Minha avó dizia pra não aceitar nada na rua. Ele foi atrás de mim e perguntou: – Bebes algo? – Bebos mas não contigo, pensei. – Muchas gracias! Tengo que volver, respondi – Não sei nem o que daria para fazer contigo, pensei rindo pela rua. Nenhum café ou restaurante da redondeza aceitava cartão de crédito. Apesar do frio, consegui me divertir e comer bem nesta cidade de carnívoros de primeira categoria. No meio do cheiro da carne assada, por tudo quanto é canto, que pode incluir intestino e bexiga de gado, havia opções lacto-vegetarianas. Em 3 dias, aconteceram 3 passeatas: Malvinas, funcionários estaduais e bolivianos na embaixada dos EUA. Trânsito sempre caótico, vendedores ambulantes muito pobres.  Levei um beijo babado na bochecha de um garçom velho e tarado, enquanto pagava a conta. Em outra internet, uma senhora muito distinta tentou ficar com meus 10 pesos, se fazendo de desentendida. Os motoristas de táxi não chamam a presidenta pelo nome, para não chamar o diabo. Chamam de A Mujer. Santa pobreza latino-americana. Hermanos, na próxima prometo falar dos podres de Porto Alegre. Hoje não deu tempo.

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