Os magrissíssimos estão chegando

Apareceu na minha mesa, lá na PUC, o primeiro número da revista Zinematógrafo (jan/fev 2013), editada por sete pessoas. Salvo engano (não as conheço pessoalmente, com uma ou duas exceções) , elas são relativamente jovens, fazem ou fizeram curso superior nas áreas de Comunicação ou Cinema, e pretendem usar um veículo despretensioso do ponto de vista gráfico – xerox preto-e-branco, grampeado no meio, com 32 páginas meio ofício – para fazer circular suas ideais, que nada têm de despretensiosas, sobre o cinema e o mundo audiovisual. Iniciativa mais que saudável. Bem vindo, Zinematógrafo!

 

Comecei a ler o editorial (pág.2) e, imediatamente, lembrei outra publicação sobre cinema editada em nossa cidade, o CAC (Cooperativa Artigo de Cinema), que circulou entre 1996 e 1999. Gustavo Spolidoro, então um jovem realizador super-oitista, era o editor-chefe. Entre os colaboradores estavam os também cineastas Cristiano Zanella, Fabiano de Souza, Eduardo Wannmaccher, Hique Montanari e Flávio Guirland. Todos eles tinham por volta de 25 anos. O CAC era impresso (e não xerocado), mas, à semelhança do Zinematógrafo, investia na qualidade e na contundência dos textos, já que não havia verba para um design sofisticado.

 

É interessante perceber a grande semelhança de discursos entre essas publicações, separadas pelo considerável intervalo de 15 anos. É quase uma nova geração apresentando-se. Escreve o Zinematógrafo em seu editorial (Carta aos leitores), que tem o título de “A greve dos filmes”:

“Porto Alegre quando quer andar pra trás, anda com gosto. (…) Há muito tempo não se via tantos filmes café com leite tomando o espaço – tal como blockbusters fazem em escala maior – de estréias importantes na cidade. (…) Estamos vivendo de cinema argentino chapa branca e franceses com o selo varilux de qualidade. Algo precisa mudar. (…) A culpa é nossa, em primeiro lugar – dos cinéfilos e críticos – pois somos muito apáticos e cordatos. (…) O incômodo é que existem muitos cursos de cinema, muita gente estudando, produzindo, mas absolutamente zero de paixão. Enquanto as salas estão vazias, as filas dos editais estão cheias. Comemora-se que há muitos filmes gaúchos sendo realizados e lançados na cidade, mas que filmes são esses? A maioria é uma catástrofe, bolinha preta saindo da sala, e não é difícil saber o porquê. A conta é simples: uma cidade que ignora o cinema não tem o direito de fazer cinema.”

 

O CAC, em seus primeiros números, dizia, entre outras coisas, que os cineastas da minha geração nunca eram vistos nas sessões de filmes "alternativos" e que a estética predominante era "cinema-comédia-da-vida-privada-estudios-disney" (Cristiano Zanella, no CAC 3). No começo de 1998, eu saudei o surgimento do CAC escrevendo o seguinte:

"Por um longo período, em conversas que mantínhamos no bar da FAMECOS, o Aníbal (Damasceno Ferreira, meu professor na faculdade) me advertia que, cedo ou tarde, surgiria uma nova geração de cineastas, os magríssimos, para esculhambar a minha geração (os magros). Mas, por mais que procurássemos, os magríssimos não davam as caras. Assim, a minha geração, hoje na beirada (ou já ultrapassando) os 40 anos, seguia sendo a juventude do cinema gaúcho. Coisa triste… Eis, que finalmente, no Ano do Senhor de 1997, os magríssimos apareceram." (Não – http://www.nao-til.com.br/nao-54/magrissi.htm)

 

Quinze anos se passaram desde que chegaram os magríssimos, que agora estão se aproximando dos 40 anos. Tava mesmo na hora de uma nova geração aparecer pra xingar todo mundo: público, programadores, críticos e cineastas. Que bom! O Zinematógrafo pode cumprir uma função muito importante. Só faço uma advertência:  dos dez filmes analisados no número de estreia (com direito, inclusive, a uma tabela  de "estrelinhas", como gosta a grande imprensa), apenas dois são brasileiros e nenhum é gaúcho. Se a intensão é dialogar com a cena local, seria interessante que os filmes gaúchos fossem tratados com seriedade. Escrever que "a maioria é uma catástrofe, bolinha preta saindo da sala", sem dar os nomes aos bois, não é criticar. É apenas xingar. Mas os próximos números do Zinematógrafo, espero, apresentarão análises honestas e – é claro – contundentes, dos filmes feitos pelos magros e pelos magríssimos. Os magrissíssimos estão chegando! 

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