O Amor e o terror

Convidar uma nova namorada para ir ao cinema é um momento clássico em qualquer início de paixão. Mas também é um momento delicado. O par ainda não se conhece direito, um não sabe direito os gostos e preferências do outro. Por isso, lá em 1981, eu estava um pouco nervoso ao propor para a Luli ir ao cinema comigo. Ela topou e perguntou: "Em qual filme vamos?". E eu tinha a resposta, meio enviesada: "Vamos no Bristol". Ou seja, em vez de dizer o filme, eu disse o cinema, que ficava ali na avenida Oswaldo Aranha, era programado pelo Romeu Grimaldi e vinha exibindo, nos últimos anos, memoráveis ciclos de filmes de arte. Foi ali, numa sala pequena, que conheci Bergman, Altman, Truffaut e tantos outros. O ciclo em cartaz, algo como "Cinema alternativo norte-americano", naquele dia estava exibindo "Quadrilha de sádicos" ("The Hills Have Eyes, 1977") de Wes Craven, um diretor então absolutamente desconhecido. 

Sentamos, e o filme começou. A história é simples. Uma típica família norte-americana – tão típica que tem até um bebê de colo fofinho e bonitinho – está viajando por uma estrada num deserto. O "motor-home" estraga. E, para azar da família típica, eles estão bem perto de uma outra família, esta bem atípica, pois é composta por selvagens canibais dispostos a fazer qualquer coisa para obter a carne de mais qualidade do universo: coxinhas de bebê humano. Não preciso contar mais. À medida que o filme evoluía, com muitas mortes sangrentas e toda sorte de barbaridades, eu pensava: "Pronto, acabou. Ela vai levantar, dizer que eu sou completamente maluco e dizer adeus." Mas ela ficou até o fim. As luzes acenderam, nós saímos e, ainda meio cegos pela luz do sol, eu tive a coragem de fazer a pergunta: "Gostou?". E ela, que sempre foi muito honesta, respondeu: "Detestei. Mas gosto de ti". Pronto. Ali, na frente do Bristol, o nosso futuro estava traçado. Não é qualquer amor que resiste ao terror de "Quadrilha de sádicos." Estamos juntos até hoje.

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