No calor do vulcã­o

Podem não acreditar, mas o meu assunto deste fim de semana já era vulcão, antes de acontecer todo o problema da Islândia. Pelo menos tenho fotos para comprovar. Quando eu era pequeninha e minha vó me dava yogurte da Deal, com canela em cima, em linda embalagem de vidro, eu saboreava e ficava ouvindo a Rádio Guaíba de tabelinha. (Mas tu é véia, ô minha.) Tinha um locutor que já fazia uma espécie de docudrama, com sonoplastia , usando trilhas vibrantes, que me fascinavam. Uma vez esse radialista contou toda a tragédia da erupção do Vesúvio, ocorrida antes de JC,  com detalhes trágicos sobre o soterramento de todos os moradores de Pompéia e Erculano. Criancinhas petrificadas em suas camas, pessoas se protegendo com as mãos, casas totalmente destruídas. Eu fiquei ao mesmo tempo maravilhada e assustada com a estória e cheguei a sonhar com ela. Como eu andava pela costa Amalfitana, ali pertinho, não pude deixar de conhecer as duas cidades e o vulcão. Só que cheguei esperando algumas ruínas bonitas de duas cidades destruídas, e nada novo construído em volta delas. Nunca olho no Google antes de chegar nos destinos. E, para minha surpresa, os sítios arqueológicos estão cercados por novas e populosas cidades, com ninguém nem aí pro vulcão.

         
 
Acabei totalmente enlouquecida ao conhecer as escavações. As cidades são grandes, principalmente Pompéia, e estão intactas. Nunca teve lava soterrando nada. Talvez todos soubessem, menos eu e o locutor. O que matou todo mundo foram estas mesmas cinzas, pedras e enxofre deste vulcão atual, que atingiram muito rápido Pompéia, mesmo estando a 30 quilômetros dali. Erculano, bem embaixo, foi um alvo mais óbvio. Só que estas mesmas cinzas protegeram de alguma maneira as construções, e o visitante  se sente fazendo parte das cidades. As árvores plantadas são fantásticas. O que mais encanta é imaginar  a organização dos caras há mais de 2000. Dão banho em muitas  civilizações atuais. Os banhos e saunas femininas e masculinas, as tabernas, onde todos almoçavam ao meio dia, pagando por sua comida e por seu vinho, estão todos lá, e o que é melhor, em belíssimo mármore. A casa do tocador de cítara, a mais linda da cidade, enlouquece qualquer um, com sua fonte e jardins. Os artistas deveriam ser tratados ainda assim hoje em dia. Muitas  pinturas, foro, teatros, anfiteatro. Em suma, precisam dois dias para ver direito Pompéia e um dia para ver Erculano.
 
           
 
Mas quando  tu olha pra cima e vê a envergadura do Vesúvio, imenso, ainda não extinto, tu te assombra. Tentei fazer o passeio duas vezes seguidas, não deu, mas na terceira consegui. Chorei na subida e cheguei na cratera babando para a beleza de suas paredes internas.  É muito poderoso e apavorante porque, para completar o quadro, tem vapor d´água saindo de um dos lados, parecendo fumaça.  Falei esbaforida com os locais, lá em cima , depois de subir os últimos 30 minutos:
 
– Ciao, belo, sempre tem esta fumacinha saindo?
– Não se preocupe, diva , é só água fervendo.
– Ah, legal. Vocês não tem medo de uma erupção?
– Não. Sempre vai começar com fumaça e aí dá tempo de sair correndo. Até chegar a lava demora um pouco. Se ela vier muito grande, nossas casas se vão.
– Mas se foi a fumaça que matou todo mundo lá embaixo? – respondi
– Em 44 saiu muita lava, que a senhora pode ver ali naquela vala, mas de lá para cá foi só fumaça. Não vai acontecer nada. Deus é grande.
– Maior que este vulcão? brinquei.
– Bem maior, e o papa é daqui mesmo. Arivederci.
-Arivederci.
 
         
 
Nosso GPS pirou no vulcão e não encontramos um hotel com wifi no centro de Erculano e acabamos em uma pousada na própria subida do Vesúvio. Qualquer problema tem alarme e dá tempo de sair correndo, disse o gerente. Espero ter me energizado total dormindo neste vulcão poderoso, porque o banho foi de última. Vesúvio, pode vir quente que estou fervendo! Ainda bem que não estou na Islândia, nem no aeroporto neste momento. Deus é grande e o papa é brasileiro.
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