Desconectados 4: A Versão de Augusto

 

Capítulo 4 – A versão de Augusto

Marta sem dúvida é uma mulher extraordinária, e eu realmente sofri pra caralho quando a piranha me deixou. E ela caprichou: pra me esmigalhar em baixo de sua estonteante botinha de camurça, uma semana depois de me deixar transou com um ex-aluno meu da Arquitetura, de 24 anos, só pra mostrar que ela conseguia homens de qualquer idade. Mas precisava ser meu ex-aluno? Duas semanas depois, eu me vinguei e comecei a namorar a secretária do escritório, de 21 aninhos. Ela deve ter se mordido um pouco pelo menos, porque a menina é estonteante. Seu nome é Stela. Stela Maris. Toda vez que Stela começava a falar, eu ligava em qualquer futebol, jogo, comentário de jogo, replay, remix ou rebimboca, e então ela ficava em silêncio até a próxima foda. Que também não eram grandes festas, se comparadas com as minhas orgias com a Marta, mas é o que tínhamos pro momento. Às vezes, tinha muita delícia este pequeno banquete que era a Marta, apesar de ser louca e alternar depressão e ansiedade o tempo todo.

O problema, e ao mesmo tempo a vantagem da Marta, é que ela resolvia tudo: o banco, as contas, as compras, a farmácia. Não que eu goste de explorar mulher, só não tenho nenhum saco de lidar com dinheiro e chatices burocráticas. Estou há 5 anos sem carteira de identidade, usando sempre a carteira de motorista ou o passaporte, o que já me trouxe muitos problemas. Tive a maior dificuldade em aprender a tirar dinheiro com cartão no caixa eletrônico. Mas Marta dizia: "Tu tem que estar socialmente atualizado, te preparar para os seqüestros relâmpagos. Se tu não sabe tirar dinheiro eles te apagam." É uma visionária, sempre pensando positivo. Babaca.

Até os problemas da minha mãe a Marta resolvia: "A tua mãe tem que ir nos cardiologistas do Instituto do Coração, Guto. Pelo plano de saúde dela pode ir a qualquer hora, e ela simplesmente não aproveita. Ela está tendo palpitação. Além disso ela tem dor de um lado da barriga, deve ser ovário. Tem que fazer uma eco. Também convence ela a trocar o aparelho dos ouvidos, pois eu não agüento mais ficar gritando no telefone. Manda um e-mail pras tuas irmãs sobre problemas da tua mãe."

E, logo depois, era o meu corpo que estava errado, rumo a uma morte lenta, devido aos meus (maus) hábitos alimentares:

"Augusto tu tem que comer toda semana brócolis, missô, tofú, salada de frutas, damasco, ameixa, maçã, arroz integral."

"Argh! Prefiro a morte lenta."

Eu era casado com uma nutricionista que achava que era economista. Pessoa metida. Achava que sabia muito, mas tava sempre fazendo besteira. Ela me convenceu que a doença vinha da comida que eu ingeria. Se eu comia pizza 4 queijos, ela dizia: "Vai dar prisão de ventre, dor de barriga. E depois, com a barriga presa, vai dar dor de garganta, gripe." Se eu comia um churrasco, além de ela não chegar uma semana perto de mim, porque dizia que sentia o cheiro do sangue, do alho, ela me dava laxante para a carne sair logo e limpar meu organismo. Tomei muito laxante nestes 7 anos.

Ela dizia: "Tu ainda tem gosto pela carne, tem gosto pelo bife suculento?"
 
Eu dizia: "Tenho."
 
Ela reclamava: "Jamais poderei viver com um vampiro."

Eu respondia: "Vampiro do teu sangue." E já saía agarrando. Isso se ela deixava eu chegar perto, porque às vazes estava "estressada do trabalho". Quando eu conseguia pegar de jeito, ela se acalmava aos poucos, mas ainda argumentava:

"A única possibilidade de comer carne sanguinolenta seria se eu fosse uma esquimó nas geleiras e só o que tivesse depois de quatro semanas passando fome fosse uma foca na minha frente. E ainda assim uma foca morta por acidente, e eu tivesse que comê-la para não morrer. Mas, mesmo nessa situação, talvez eu me abraçasse com ela e morrêssemos juntas."

Mulher doida, meu Deus! Ficar falando que poderia morrer abraçada com uma foca para não comê-la. Pior que, conhecendo bem a Marta, era capaz dela fazer isso mesmo. Morrer abraçada com uma foca, com um javali, com um dromedário. Eu mereci uma mulher dessas. Uma economista de verdade devia ser capitalista, se preocupar com lucro apenas, sem este excesso de  preocupações humanistas e ecológicas. Mas fui logo arranjar uma economista socialista. Tataraneta do Marx. Alemoa como ele. Marta Engels deveria ser seu nome. Gasta rios de dinheiro e ao mesmo tempo tem preocupações sociais profundas. Mulher louca, mas gostosa. Muito gostosa. Não sei se algum dia na vida vou achar alguma mais gostosa. Odeio ela.

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