Talento

A quase contratação de Ronaldinho pelo Grêmio mostra – pela enésima vez – que simplesmente ter talento para desempenhar uma profissão não serve pra nada. Goebbels era um publicitário talentosíssimo. Ele deixou seu nome na história, mas essa celebridade é triste, constrangedora, maligna. O talentoso pode ir, com seu talento, a lugares muito escuros.

Obviamente, Ronaldinho – que, hoje, sem dúvida, é muito mais conhecido que Goebbels – não tem o grau de malignidade deste senhor. Seria uma comparação absurda, do ponto de vista moral. Mas não é do ponto de vista do talento. Vi Ronaldinho jogar muitas vezes, ao vivo e pela TV. Era um monstro, no melhor sentido do termo. Um amigo colorado me confessou, alguns anos atrás, que, ao ver o R10 jogar pela primeira vez, sentiu que, enquanto ele estivesse no Grêmio, nem adiantava torcer contra. Era um talento grande demais para ser vencido.

 

Mas qualquer talento, em qualquer área da atividade humana, precisa estar ligado a uma ética. Isso vale tanto para o futebol quanto para a política. E para o cinema. Quantos talentos cinematográficos estão a serviço de ideias mesquinhas! Quantos profissionais com inícios de carreiras brilhantes acabam deixando seus egos crescerem tanto que ficam insuportáveis. Quantos colegas abandonam qualquer espírito coletivo e pensam apenas em suas próprias carreiras, num egoísmo que já prejudicou o cinema brasileiro em momentos importantes de sua história.

 

Ninguém é capaz de duvidar do talento de Ronaldinho, nem de sua capacidade de gerar grandes negócios. Na verdade, basta olhar uma foto de Ronaldinho para simpatizar com ele. Mas suas atitudes – agora ou no passado – fazem seu talento adquirir uma imagem negativa e até perigosa, do ponto de vista social. O futebol está muito perto da irracionalidade, e muita gente é incapaz de obedecer aos limites da civilidade quando está no meio da multidão. Ronaldinho não fez nada de errado do ponto de vista legal, mas as pessoas não ligam muito para questões legais.

 

O fator mais dramático no atual caso Ronaldinho foi que, se ele tivesse voltado ao Grêmio e feito um gol decisivo, com certeza seria perdoado pelos torcedores, anônimos ou ilustres. Seu talento voltaria a brilhar positivamente. É como se Goebbels tivesse uma segunda chance de exercer seu talento publicitário e, em vez de apoiar Hitler, pudesse escolher um outro destino para si e para o mundo. E, sabendo agora da imortalidade maligna da nazismo, e tendo a chance de trabalhar para a ascensão de um outro líder, continuasse apoiando Hitler. A história só se repete como farsa, e nem o maior talento do mundo está acima dessa verdade.

 

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