Onfray e sua vida filosófica

Flanar pelas ruas de uma bela cidade – e todas são belas à sua maneira: Paris, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Sapucaia do Sul – é muito bom. Mas flanar pelos corredores de uma livraria ou de um sebo pode ser ainda melhor. A FNAC gigantesca da Gare Saint Lazare, em Paris, as pequenas e charmosas Beco dos Livros e Londres, em Porto Alegre, a agradável e cheirosa Argumento, no Rio de Janeiro, e uma minúscula livraria de Sapucaia, que ainda descobrirei, também têm suas esquinas, seus cantos escondidos, seus mistérios a desvendar.

 
Foi na carioca Argumento que flanei um pouco durante uma semana de ensaios no Rio, à procura de mais obras de J.M.Coetzee, de quem eu acabara de ler o espantosamente bom “Desonra”. Achei vários e comprei “Verão” e “Elizabeth Costello”. Mas, numa rápida visita à seção de Filosofia, como quem dá uma olhadela na vitrine de uma confeitaria, achei “A potência de existir”, de Michel Onfray, autor que leio há um bom tempo e que uso em sala de aula para refletir sobre a representação do corpo no cinema.
 
“A potência de existir”, lançado há bem pouco na França e (bem) traduzido por Eduardo Brandão, é um resumo da obra de Ofray e tem um prefácio (do próprio autor) em que ficamos sabendo de um período de quatro anos em que esteve internado em um orfanato no interior da França. Detalhe: seus pais estavam vivos, a alguns quilômetros de distância. Ali, com dez anos, entre padres salesianos (alguns deles pedófilos), sufocado por um regime disciplinar absurdo e submetido às piores coisas (sim, existem as boas, mas estavam em falta) da educação religiosa, Michel Onfray foi salvo pelos livros, que lia sem parar, muitas vezes às escondidas.
 
Onfray defende uma filosofia utilitarista, que possa ser aplicada na vida cotidiana e que traga reflexos para a existência de cada um, em vez de servir para intermináveis debates metafísicos. “A potência de existir” é uma excelente porta de entrada para “Teoria do corpo amoroso” e seus outros livros. Para mim, que começo a rodar um novo longa nesta semana, ler um novo Onfray é recarregar as baterias, reacreditar na força da arte, reafirmar a importância de arriscar e criar, em vez de repetir, repetir e repetir. As fórmulas idealistas que se danem. Platão que se dane. O cinema “bem feito” que se dane. Vamos imaginar. E vamos viver de verdade.
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