Notícias de Cannes – II

Já escrevi sobre três bons filmes que vi em Cannnes: "Waltz with Bashir" (este é uma obra-prima), "Linha de passe" e "Blindness". Mas, no mesmo festival, tive o desprazer de ver duas bombas. Uma bomba turca e uma bomba filipina. A seleção destes dois filmes para uma mostra disputadíssima como Cannes só pode ter uma explicação: ambos são co-produções com a França. É claro que eles têm aquele jeitão de filme de arte de países periféricos que sempre cola em festivais. Mas, como todos sabem, não há nada pior que um falso filme de arte. Ou, como diria o professor Aníbal Damasceno Ferreira depois de assistir a um filme brasileiro no Festival de Gramado: "Tem toda a chatice de um grande filme, mas não é um grande filme."

O franco-turco "Três macacos", de Nuri Bilge Ceylan, não é um desastre completo porque tem bons atores. Mas a insistência em estender os tempos dos planos até o limite do insuportável acaba com qualquer possibilidade da história decolar. Aliás, essa tendência de fazer o tempo de um plano se alongar quando toda a informação já foi dada é uma das maiores pragas atuais do "cinema de arte". Salvo raríssimas exceções – lembro, por exemplo, de "Últimos dias", de Gus Van Sant, que é emocionante em sua imobilidade – planos longos demais parecem dizer: "Olhem só, este é um 'filme-cabeça', que precisa ser analisado com todo cuidado." O próprio Gus Van Sant é aborrecido em "Elefante". Godard é o grande mestre nessa arte, e "A idade da terra", de Glauber, é o clímax dessa estética. Claro, o que aborrece a mim pode emocionar meu vizinho. Então, o meu vizinho que vá curtir "Três macacos" e me deixe em paz.

Já o franco-filipino "Serbis", de Brillante Mendoza, é um desastre completo mesmo. O cenário é maravilhoso: um cinema pornô em decadência, administrado por uma família que mora no próprio local. Toda a história se passa num único dia. Um interminável dia, registrado por intermináveis planos-seqüência. Acho que alguns cineastas fazem questão de filmar um fiapo de história, de modo que seus maravilhosos planos sejam uma espécie de celebração de uma linguagem cinematográfica "pura", liberta de toda a tradição narrativa literária. Pelamordedeus, essa discussão é do começo do século passado, quando uns russos chatos queriam proibir os filmes de ter legendas. Sem chegar à radicalidade do professor Damasceno, que ensinava que o cinema não passa de um gênero literário, defendo que o cinema pode abrir mão de quase tudo, menos da história. O resto é vídeo-arte.

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