Estamos ferrados, mas os filmes são divertidos

Estou voltando da cidade de Goiás (primeira capital do estado de Goiás, a 140 quilômetros de Goiânia), onde fui júri do XI  Festival Internacional e Cinema e Vídeo Ambiental (FICA). Em quatro dias, assisti a mais de 20 horas de obras audiovisuais, vindas de vários países. A maratona foi fantástica. A qualidade média da mostra é alta (foram mais de 500 filmes e vídeos inscritos, e apenas 29 selecionados), superior a muitos festivais "genéricos" que andam por aí. A experiência de uma overdose diária de mensagens relacionadas ao meio-ambiente me deixou bem consciente do mundo que nos espera nos próximos anos, o que é
muito assustador. Estamos mesmo encalacrados. Muito provavelmente já ultrapassamos o ponto em que seria possível viver num planeta saudável. Podemos apenas enfrentar os desastres da melhor maneira possível.

O vencedor do festival chama-se "Corumbiara", de Vicent Carelli. É uma obra-prima. Já vi muitos filmes sobre índios, em sua grande maioria chatíssimos, paternalistas, sem ritmo, sem nada a dizer. Pois "Corumbiara" tem ritmo e muita coisa a dizer sobre o massacre de uma tribo indígena em Rondônia na década de 80. É também um filme sobre cinema, sobre as capacidades e os limites das imagens em movimento. O documentarista não apenas narra a sua longa investigação, como também demonstra como foi reagindo aos fatos ao longo dos anos. Às vezes parece "Cabra marcado para morrer", de Eduardo Coutinho (pelas idas e vindas do tempo), mas na verdade é mais complexo e mais emocionante. Não sei que tipo de circuito vai ter esse filme, mas, seja onde for, prezado leitor, trate de assisti-lo.

Outros imperdíveis: "Mar de dentro", de Paschoal Samora (Brasil-SP); "Uma mudança no mar", de Barbara Ettinger (EUA); "Morrendo em abundância", de Yorgos Avgeropoulos (Grécia); e "No centro da terra, de poços e homens", de Ingrid Patetta (Nigéria). Todos eles são bons filmes, independente do recado ambientalista que transportam. Todos eles estão preocupados, em  última análise com o homem, e não com alfaces ou invertebrados, o que costuma ser o pecado mortal de filmes pretensamente ecológicos. É claro que alfaces – e principalmente invertebrados – podem ter relação direta e indireta com a vida dos humanos, mas poucos filmes conseguem estabelecer claramente essa interdependência.

Enfim, voltei de Goiás mais preocupado com gastos idiotas de energia, com torneiras abertas (minhas filhas já me policiam há tempo nessa área) e, principalmente, com a emissão de CO2. Ou a gente muda urgentemente nossa matriz energética, ou estaremos ferrados num prazo muito mais curto do que imaginamos. Eu achava que era bom ouvir que a Petrobrás encontrou mais petróleo na camada pré-sal. Ledo engano. É mais combustível fóssil pra gerar CO2 e envenenar os mares. E paro por aqui, pois não tem coisa mais chata que um eco-chato. Mas não esqueçam de ver os filmes. Eles não são chatos. São divertidos, educativos e aterradores.
 

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