De Bruxelas a Pelotas

Viajei  de Bruxelas pra Brugges, Cannes, Paris, Brasília e Pelotas. Finalmente volto para o meu bercinho simpaticamente chamado de Happy Port (quando tenho que explicar o significado do nome da cidade  no exterior). O que estas cidades têm em comum? Pessoas legais, paisagens lindas, comida boa. Cada lugar é único, com distintos padrões de sobrevivência urbana para os simples mortais. Condições confortáveis ou adversas, dependendo  do nível de profissionalização dos serviços e do bolso do favorecido, ou da vítima.

 

Bruxelas é relativamente pequena, mas tem uma das sedes da ONU, falam-se todas as línguas nas ruas, têm todas as lojas de marca que os turistas adoram, agitada vida noturna e ótimos restaurantes. Tem o museu do Magritte, por quem me apaixonei (antes, só tinha como referência os quadros com chapéu côco). O cara foi um artista completo, irrreverente, lindo. O museu é absolutamente bem planejado, para a exposição eficiente  das obras. Tivemos a sorte de pegar o dia do orgulho gay, com festas por toda cidade que reuniram 50 mil pessoas. Foi um banho de alegria, farra, e ao mesmo tempo, protesto pacífico pela morte recente de um gay por um homofóbico que atirou  em um bar. A parada foi como estar em um grande carnaval de estrangeiros, com música eletrônica , pop, hard- core, tudo chunto-ao- mesmo-tempo-incluído. E, para uma chocólatra como eu: o melhor chocolate do mundo, barato e  por tudo. Já Brugges é linda,  pouco populosa, em cima d´água. Tem uma catedral com um Michelângelo maravilhoso e música sacra em todas as igrejas, detalhe óbvio que todas os padres do mundo deveriam adotar. Um dia na cidade  é suficiente, mas tem hotéis muito acolhedores, para passar a lua de mel, por exemplo.

 

Cannes: pega o Festival de Gramado, multiplica por 1000, bota umas Ferraris conversíveis na rua e muita roupa e bolsas de marca. Faz fila para entrar em qualquer sessão, corre atrás de ingressos, atrás de vaga no estacionamento. Tenta que alguém te dê bola profissionalmente, em meio a um mercado saturado e de altíssima competição. Uma verdadeira guerra de Titãs. Tem horas que tu pensa: o que estou fazendo aqui? Mas para quem  gosta do mundo do cinema a regra é: tem que entrar fundo, sem se afogar. Com 4000 filmes independentes inscritos em Sundance e 1700 longas inscritos em Cannes, tu fica pensando no que sobra para o cinema brasileiro, que ainda engatinha no seu  próprio país  e tenta abrir espaço em bloqueados países estrangeiros. O melhor do festival: ver ótimo cinema. Desta vez resolvemos nos hospedar em Mougins, para fugir do agito e dos preços do centro de Cannes. Pelo mesmo valor de díarias da Croisette, a 10 kilômetros, tu fica em mansões do século passado, em meio a lagos e florestas. Nossa hospedagem já foi habitada por  Picasso e outros artistas interessantes.

 

Paris: sempre inigualável. No domingo em que chegamos, ao meio dia, em Orly, largamos as bagagens e fomos comer em um restaurante italiano fantástico por 70 reais. De lá para uma apresentação de duas instrumentistas  e cantoras maravilhosas de música medieval no Clunny. Em meio a estátuas, instrumentos e trovas medievais, cheguei a chorar um pouquinho e agradecer por estar ali naquele momento tão especial. Já devo ter vivido na Idade Média, pois amo esses  versos e essa melodia. Espero não ter sido queimada na fogueira. São 1200 letras de canções medievais encontradas, para apenas 300 melodias, em 4 manuscritos. Atualmente os músicos adaptam os versos dentro destas melodias. À noite ainda fomos no cinema  e depois desmaiamos. Todos os dias, a mehor comida do mundo e arte por tudo. Balé de Tokyo, sinfônica, música nas igrejas, parques. Principalmente na primavera, o que pode haver de melhor?

 

Brasília: the dream is over. Passamos o final de semana realizando a segunda parte de um curso para os jornalistas da Globo. Trabalho pesado, mas eficiente. Alunos motivados, discussões pontuais, renovação de idéias. O bom de Brasília: assim como Bruxelas, estrangeiros  espalhados pela cidade, o que aumenta muito a diversidade dos serviços oferecidos, principalmente das cozinhas. Estando com fome, tu sai do prédio da  Globo, atravessa e rua e já cai dentro de um restaurante com comida internacional excelente, de um grupo cearense. E o mais importante: sempre aberto.

 

Pelotas: fui convidada para ver os últimos dias de gravação do filme/seriado O Tempo e o Vento, na Charqueada São João. Ônibus executivo de primeiro mundo, com direito a bebidas, filme, músicas e poltrona-leito. A charqueada continua linda, com suas figueiras seculares, taquarais e caminho para o poluído rio. Me entristece olhar para uma praia daquelas e não poder entrar na água. Um dos problemas mais negros de nossa civilização: apenas  poder olhar para o mar, para os rios e não poder se jogar de cabeça. Equipe altamente profissional da Globo, misturada com uma maravilhosa equipe gaúcha , com quem já trabalhei, construindo a cada dia um pedaço da  obra do eterno Veríssimo. Fui recebida tão calorosamente, que fiquei enternecida e achando que tudo sempre valhe a pena. É sempre bom voltar para Porto Alegre, cidade-carroça, com poucos estrangeiros, mas com muito energia, onde acontece um pouco de tudo, orquestrada pela sua população endoidecida .

 

 

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