Aquecimento global e juiz do Gre-Nal

Milhares de cientistas dizem que o homem é o responsável pelo aquecimento global. Outros milhares dizem que não. Mas há quem diga que não existe aquecimento global. Milhares de gremistas viram três pênaltis a favor do Grêmio no Gre-Nal de ontem (28/08/2011). O juiz viu um. Mas há colorados – poucos, mas existem – capazes de dizer que não houve pênalti algum. A verdade dos fatos é escorregadia. Uma certeza pode se transformar em dúvida se a imagem de um novo ângulo de câmera for acrescentada, ou uma nova tecnologia for capaz de medir o que antes não era medido. Assim é a vida: feita de incertezas, indeterminações e tempo instável, quase sempre com chuva.

Ainda não vi "A árvore da vida", do grande Terence Mallick, mas sei que as opiniões vão de "insuportável" a "sublime". Se o aquecimento global  e o Gre-Nal são temas polêmicos, o que dizer da arte? Mas é possível ter certeza sobre algumas coisas: ao contrário do aquecimento global, que pode ser simplesmente negado, um filme em cartaz é uma obra de existência plena. Também é impossível negar que o Grêmio ganhou o Gre-Nal. Ou que hoje está chovendo. Ou que sou sócio da Casa de Cinema de Porto Alegre e escrevo neste blog quando tenho alguma coisa a dizer e supero as forças descomunais da inércia.

Quanto mais envelheço, mais acredito que quase todas as decisões importantes que tomamos na vida são muito mais emocionais que racionais. E não há problema algum nisso. Se a racionalidade não nos dá certezas, por que não considerar o que sentimos? Em outras palavras: Platão estava errado. Ele dizia que nossos corpos e nossas emoções pouco (ou nada) significavam, pois não passavam de sombras projetadas no fundo da caverna. A "verdade" estava lá fora da caverna. A história da filosofia é a história das muitas tentativas de sair da caverna. Uma bela história, porque é cheia de conflitos, fracassos e belas palavras.

Nietzsche, Heidegger, Foucault e Onfray, entre outros, ensinam que Platão, além de estar radicalmente errado, fez muita gente segui-lo no erro. Não há coisa alguma fora da caverna. As sombras é que realmente interessam, pois somos, antes de qualquer coisa, carne e sentimentos. Somos também racionais, é claro, mas nossa essência não é puramente racional. Racional, mesmo, é esse computador. Na República de Platão, não seriam dos engenheiros de software os lugares mais elevados, pois eles ainda seriam humanos, feitos de carne e sentimentos. Lá no alto, ao lado dos filósofos, estariam as linhas de código e os chips. E talvez Bill Gates.

Tudo bem, eu sei que esse texto está meio esotérico e não vai chegar a lugar algum. Racionalmente falando, nem deveria ser publicado. Mas sinto que vale a pena. Sinto que as racionalidades podem oprimir, principalmente quando elas são apoiadas pela maioria e ignoram os sentimentos das minorias. Sinto que é impossível chegar a uma verdade essencialmente racional sobre o aquecimento global ou os pênaltis no Gre-Nal. Isso não impede, contudo, que se busque uma verdade possível, meio incerta e que considere os sentimentos, em vez de considerar a planilha do Excell. Sei que não é o caminho da maioria, mas vou por aí.    

 

 

 

 

 

   

 

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